Que exemplos estamos dando às nossas crianças?

Alzira Willcox
A infância costuma ser vista pelos adultos como mera preparação para o futuro, em vez de ser considerada como uma fase que merece muito ser valorizada e respeitada em seu direito mais importante – ser criança. Isso fica claro nos diferentes estilos de educação, na estrutura de escolas em geral e nas matérias veiculadas na mídia. Como resultado dessas visões sobre a infância, há muitos diferentes e, às vezes, extremados caminhos propostos para lidar e trabalhar com crianças. Esses caminhos podem ser absolutamente permissivos ou o extremo oposto, de volta a um passado cujo estilo de educar se assenta na disciplina rígida e severidade. Pais inseguros em um mundo de velozes informações e transformações concluem que educar é uma tarefa muito complexa e sentem necessidade de ouvir conselhos sobre o assunto e que, muita vezes, são conselhos conflitantes. Ficam perdidos e não sabem como educar e ensinar aos filhos. Também acontece com professores e escolas imersos em um enorme volume de inovações tecnológicas e didáticas. Respeitar as crianças, antes de tudo, é permitir que sejam crianças, que vivam a infância em sua plenitude, sem ter que seguir a tendência de algumas correntes a exigir-lhes o máximo na sua aprendizagem e desenvolvimento para torná-los mais competitivos e serem bem sucedidos na vida adulta, no futuro. E ter cuidado para não tratar a criança como um adulto em miniatura. Ela não o é e deve ser respeitada para ser exatamente o que é – criança. Lembrando sempre que brincar é coisa séria.

Essa introdução tem como propósito uma chamada para refletirmos sobre a criança em formação contínua e o papel dos adultos, pais especialmente, que a cercam.

O que se observa em tempos de tecnologia e WhatsApp é que pais fazem grupos com pais da escola de seus filhos. Ótimo, se o objetivo for o de aproximar, ajudar a criar vínculos das crianças com seus coleguinhas, trocar ideias sobre o caminhar das crianças e inteirar-se do que a criança vivencia na escola. Maravilhosa integração! Melhor ainda se a escola participa, enviando relatos das atividades, trocando ideias com a família. Isso é saber bem aproveitar a tecnologia presente às nossas vidas.

Mas, infelizmente, há uma distorção em alguns grupos e o que se vê é a discriminação de alguma criança, é o desrespeito ao professor, enfim passam longe de um objetivo construtivo e que reflita uma preocupação genuína com os valores que desejam inculcar nos filhos.

É importante que o pai faça uma escolha criteriosa da escola em que vai matricular seu filho. A proposta está alinhada com aquilo que você acredita que tenha importância, está alinhada com o viés ideológico em que você pauta a sua vida?

A escolha é importante, acompanhar o desenvolvimento da criança, as propostas da escola também. Aproximar-se do/da professor/a da criança, levar suas observações e críticas a ele/ela, perfeito. Conversar com a equipe técnica é muito válido. Mas usar o aplicativo WhatsApp para contaminar o grupo, aliciar os outros pais para se posicionar contra o/a professor/a com exigências descabidas e, muitas vezes, desrespeitosas é inaceitável. Isso gera um clima ruim para a própria criança, num momento em que ela está criando laços com o/a professor/a e os colegas.

Não se trata de não criticar, de aceitar tudo sem questionar. Questionamentos são válidos e críticas construtivas são sempre bem-vindas. O que não há é necessidade de estabelecer um “versus” com a escola, em grupo, o que é nefasto e destrutivo para as próprias crianças que passam a olhar os professores com desconfiança que pode ser infundada, inclusive. Não é, de fato, um bom uso da ferramenta que temos.

Falamos que a criança precisa ser respeitada em seu desenvolvimento. Precisa ter liberdade para pensar livremente sem ser podada, precisa brincar porque na brincadeira ela vai se ligando a valores e elaborando muitos conceitos importantes. E a criança precisa também aprender a respeitar o outro, seja um familiar, mais velho ou não, seja um colega de sala ou um amigo do prédio, seja o/a professor/a, a babá, os funcionários da escola, do prédio… Enfim, simplesmente respeitar. Respeito, um valor que precisa ser cultivado e que é muito aprendido e apreendido pelo exemplo.

Que exemplo estamos dando às nossas crianças?

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