O que está acontecendo com os jovens que ingressam no mundo do trabalho?

Alzira Willcox

Qual é a responsabilidade dos pais no desempenho dos filhos quando eles ingressam no mundo do trabalho? Até onde vai a influência dos pais no sucesso ou insucesso dos filhos?

Fato: os jovens dessa geração estão chegando ao mercado de trabalho mal preparados. Não reconhecem hierarquia. Metas e prazos, pra que isso? E, se contrariados, largam o emprego. Simples assim.

Mas por que isso? A postura paterna permissiva, de um amor sem exigências, um amor que aceita tudo é uma armadilha. Colocar os filhos numa redoma, mascarar problemas e dificuldades que possam ter e evitar decepções, fugindo dos desafios, tudo isso contribui para “uma geração frouxa no esforço e nos valores de convivência” – diz o filósofo e professor Mario Sergio Cortella. “O desafio é os pais transmitirem aos filhos valores essenciais para a sua sobrevivência num mercado de trabalho cada vez mais acirrado.” – acrescenta.

Em um artigo anterior, falamos de responsabilidade e autonomia. Afirmamos que a responsabilidade não pode ser imposta. Ela deve crescer do íntimo, alimentada e dirigida por valores absorvidos em casa e na sociedade. Sim, não se adquire o senso de responsabilidade de uma hora para outra. A responsabilidade tem que ser alimentada constantemente nas mínimas situações. Já diziam nossos pais e avós – é de pequenino que se torce o pepino. Não sei bem sobre pepinos que se torcem, mas sobre crianças criadas sem limites, tendo tudo sempre nas mãos, protegidas numa redoma, conheço, ou melhor, conhecemos o resultado. Crescem conectadas ao próprio umbigo, acreditando que não precisam se esforçar para obter o que desejam. Considerando que as pessoas em geral lhes devem reverência.

O resultado é que não se adaptam ao mundo do trabalho com suas exigências. Não reconhecem hierarquia e autoridade. Rebelam-se contra regras necessárias para qualquer empreendimento dar certo. Agem como donos e senhores das decisões, superiores na empresa, escola, curso, repartição, o que for.

Essa é a geração “millenial”, geração dos jovens que nasceram entre 1980 e 2000 e tiveram desde seu nascimento algum tipo de contato com a tecnologia e a mídia virtual (por isso também são chamados de nativos digitais). Apenas nos EUA, estamos falando de 80 milhões de pessoas. E no Brasil, de acordo com o último CENSO do IBGE, quase 60 milhões de jovens.

Nem tudo está perdido, essa é uma boa notícia. Se bem orientados, esses jovens podem fazer a diferença, sair do mundinho em que se fecharam. Vamos falar um pouco mais sobre essa geração.

Características desses jovens:

  1. A exposição pessoal seria um dos pontos centrais desta nova geração. O hábito de se autofotografar, por exemplo, postar informações a todo o momento a respeito de onde se encontram, com quem estão, o que estão fazendo.
  2. Diz-se que é uma geração preguiçosa, se comparada às gerações anteriores, ou seja, menos ativa na busca de seus objetivos. Afirmam isso, pois seus jovens acreditam que obterão o sucesso profissional muito mais cedo na vida e sem muito esforço (foi o que abordamos no início desse artigo).
  3. Há também a ideia de uma geração narcisista.
  4. A internet encoraja um modelo mais horizontal de comunicação, exposição e trocas. Correm então o risco de se tornarem uma geração fechada em seu mundo próprio de valores, com pouca consciência e visão ampla de mundo, pois vivem uma realidade altamente personalizada.
  5. O desconforto daquilo que não nos é familiar é que tem a força de nos expor e nos induzir a pensar de maneira diferente, ou seja, levar ao crescimento e maturidade. Crescimento e maturidade geralmente ocorrem quando nossas convicções são colocadas à prova. E os millennials fechados em seu mundo virtual são poupados dessas experiências.
  6. A geração millennials tem à sua disposição o que nenhuma outra geração teve em matéria de informação. Se bem aproveitada, esses jovens poderão capitanear uma das maiores mudanças sociais de séculos, mas é preciso que a informação se transforme em conhecimento e esse é o desafio para os millennials.
  7. São, por outro lado, mais abertos e progressistas quanto a direitos humanos, direitos das minorias, parecem mais solidários e liberais, muito receptivos a novas ideias. Nem todos, infelizmente.

Trata-se de características gerais de uma geração, mas nada é pétreo ou imutável quando nos referimos a pessoas. Os valores sociais, o comportamento das pessoas num mundo onde a informação está ao alcance da maioria, onde a privacidade é matéria rara, onde as pessoas expõem suas vidas nas redes sociais, tudo isso influencia as atitudes dos jovens, sabemos bem. Por isso os valores da família têm que estar presentes, têm que ter sido construídos com perseverança e afeto. Incutir nos filhos, desde cedo, a noção de compromisso e responsabilidade. Algo que a maioria despreza.

Os valores da família e dos pais devem ser tão fortes que os jovens se adaptem responsavelmente ao mundo adulto com todas as suas exigências e deixem fluir o que têm de melhor, sem se sentirem poderosos e donos de todas as situações. Questionadores? Sim. Desafiadores? Não.

É preciso que saibam que existem regras, deveres, obrigações, compromissos que têm que respeitar. Saber que existe hierarquia e uma liturgia própria de cada profissão e ocupação. Saber como ouvir uma ordem e, se for o caso, questioná-la nos limites do papel que exerce no trabalho, não esquecendo nunca da gentileza e boa educação ao se dirigir aos colegas, aos superiores e aos que ocupam cargos abaixo do seu.

Vivemos um período conturbado e agressivo em que as pessoas não hesitam em ofender umas ás outras nas redes sociais, em faltar com a verdade. Pais e educadores precisam se unir para o surgimento de uma sociedade equilibrada em que prevaleçam certos valores – ética, lealdade, verdade, compromisso, responsabilidade, princípios básicos de convivência e boas maneiras. Há que se respeitarem regras, há que se pautar por um código de conduta. É possível. É desejável. É urgente.

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