A linguagem e o desenvolvimento social e emocional da criança.

Alzira Willcox

O tema de hoje trata de linguagem de forma mais ampla e abrangente. Linguagem falada, escrita, não-verbal, linguagem como forma de comunicação. Linguagem que traduz nossos pensamentos, ideias, sentimentos e necessidades. Permito-me afirmar que a linguagem é vital para nossa existência social e emocional. Embora já tenhamos abordado essa questão, julgamos de grande interesse para pais e educadores.
As habilidades de linguagem referem-se à nossa capacidade de adquirir palavras e compreender estruturas de sentenças, que, por sua vez, nos permitem falar e nos comunicar com outras pessoas. E porque adquirimos essa habilidade somos capazes de nos comunicar até nos valendo de recursos não-verbais.
O desenvolvimento de cada uma dessas habilidades se dá através das nossas interações com as pessoas ao nosso redor e como resultado da educação. Desenvolvemos as habilidades de linguagem de forma sistematizada também, através da educação.
Como seres humanos, somos biologicamente programados para imitar a linguagem; aprendemos a linguagem de outras pessoas dentro de nossos grupos sociais, como nossas famílias e círculos de amigos e a escola, desde os primeiros anos de vida. Quando atingimos proficiência em habilidades básicas de linguagem, essas habilidades continuam a contribuir para o crescimento de outras competências nos domínios cognitivo, emocional e social. Então, como se pode ver, os déficits cognitivos, equilíbrio ou desequilíbrio emocionais e desenvolvimento da linguagem estão intrinsecamente relacionados à capacidade de comunicação da criança. Quanto mais estímulos e propostas pedagógicas adequadas – da escola e/ou da família – maior a possibilidade de a criança se desenvolver harmoniosamente em todas as áreas: cognitiva, emocional e social.
Para ilustrar a interdependência dessas áreas, vamos considerar o seguinte cenário. Imagine que você quer contar a um amigo sobre um ótimo filme que você viu no fim de semana. Antes que você possa começar a usar suas habilidades linguísticas para descrever verbalmente o enredo, o conflito ou os personagens, você deverá ter usado suas habilidades cognitivas para prestar atenção ao filme, lembrar-se de pessoas e lugares mostrados no filme e também da ordem dos eventos. que ocorreram no filme, ter, enfim, compreendido o enredo. Além disso, para se comunicar de forma eficaz e ter uma conversa produtiva com seu amigo, você precisará usar suas habilidades emocionais para perceber e constatar as reações do amigo à sua história – acolhimento, prazer, desprazer – e transmitir as emoções que o filme lhe despertou. É preciso usar também as suas habilidades sociais para manter uma conversa interessante, falar e saber ouvir, permitir a interlocução.
Acho que o exemplo simples nos dá a ideia da dimensão e importância da linguagem e ilustra bem o tema desse artigo.
Ressaltemos agora o papel fundamental das competências linguísticas em nosso desenvolvimento geral. São essas competências que nos permitem traduzir nossos pensamentos em palavras (área cognitiva), expressar em palavras nossas emoções (área emocional) e comunicar pensamentos e emoções ao outro, pessoas que fazem parte do nosso círculo de relações (área social).
Fica bem claro o inter-relacionamento das áreas e suas respectivas competências e habilidades. A linguagem age como um caminho, fio condutor, para uma criança se conectar com o mundo. Ela não apenas diz certas palavras, mas também escolhe frases específicas para certas pessoas e usa certas expressões faciais e gestos com as mãos, indo além, na tradução da linguagem verbal. E é aqui que se pode perceber se uma criança está se desenvolvendo de modo desejável.
É nos primeiros anos que a linguagem mais se desenvolve e é nessa fase que pais e professores precisam oferecer muitos estímulos.
As crianças estão ingressando cada vez mais cedo nas creches como consequência da vida atribulada dos pais. Então recai sobre os professores a grande responsabilidade de elaborar um planejamento que contemple as três áreas da linguagem, não esquecendo que elas se inter-relacionam e que qualquer entrave em uma delas vai afetar o desenvolvimento global da criança.
Felizmente hoje já se dá importância ao desenvolvimento social e emocional e existem propostas para um trabalho efetivo nessas áreas. É o reconhecimento de que não se pode priorizar apenas a linguagem na área cognitiva, em detrimento da linguagem emocional e da linguagem social.
E, indo além, analisemos a introdução do ensino de uma língua estrangeira.
É raro aprender uma nova língua com o único propósito de ler sua literatura. É muito mais comum adquirir uma nova linguagem para conversar com pessoas de outras culturas, ter acesso a essas culturas e a uma formação mais rica e abrangente. O ensino de uma língua estrangeira precisa envolver habilidades nos campos cognitivo, emocional e social também para que haja verdadeira apreensão da nova língua.
A linguagem influencia fortemente as pessoas com as quais nos socializamos e o jeito como fazemos isso. Portanto, as crianças cujas habilidades sociais são prejudicadas devem ser ensinadas a usar a linguagem de forma adequada para se beneficiar de tal aprendizado e se ajustar ao convívio social. Ser aceito em grupos sociais relevantes e ter amigos requer mais do que uma coleção de certos comportamentos socialmente positivos. Para ser bem-sucedido socialmente, é preciso ter habilidade emocional, cognitiva e de comunicação social adequada.

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